Natural Yogurt Paintings é o título dado à exposição que apresenta a mais recente série de trabalhos do pintor alemão Frank Nitsche, na Galeria Pedro Cera. Uma boa oportunidade para descobrir a obra de um dos artistas que representa a continuidade da arte alemã pós-guerra, (nomeadamente da escola de Dresden) sucessora de nomes como Gerard Richter, A. R. Penck ou Hermann Glöckner.

dav

Situando a sua obra numa linha que pende entre a abstração pura e uma espécie de pictogramas, a verdade é que as pinturas de Nitsche não se definem por qualquer tipo de hesitação. Pelo contrário, são o exemplo de uma linguagem visual própria e singular, fruto de uma metodologia igualmente única e com a brilhante capacidade de estabelecer associações a algo maior, como a condição de existência daquilo a que chamamos imagem.

As pinturas de Frank Nitsche partem de um arquivo de imagens cuja origem se pode encontrar na cultura popular, nos media ou noutras representações do mundo atual: um lugar cada vez mais industrializado, técnico e mecanizado. O artista seleciona e organiza-as, utilizando-as depois numa sobreposição de formas e camadas. Ele pinta uma imagem inicial e logo de seguida retira ou adiciona novas camadas, colocando a superfície da tela num estado de constante transformação, convidando assim o espectador a recriar o seu próprio assunto, imitando, de modo semelhante, o processo de apropriação do artista. Neste sentido, não se encontra em Natural Yogurt Paintings uma narrativa fechada. O conteúdo ambíguo destas pinturas leva o espectador a concentrar-se, essencialmente, em questões estruturais da obra, concluindo aquilo que poderá ser definido como uma perceção sobre a natureza mutável das imagens. Ao desenvolver um processo que imita a manipulação digital, o artista chegou a uma própria definição de pintura, cujo resultado se assemelha a imagens geradas por computador e que, por sua vez, o espectador deverá descodificar.

Desta linguagem atual e de referências digitais, resta reforçar a preservação do seu lado naturalmente humano. Nitsche rejeita a tendência de serialização, valorizando antes a individualidade de cada pintura (notável, por exemplo, nas linhas expressivamente desenhadas ou na aplicação difusa de tinta, na energia e movimento do seu corpo).  E assim, através de um olhar quase digital, o artista preserva e reforça a essência da manualidade da pintura.

dav

Assimilando a metodologia de Nitsche, torna-se curioso o entendimento das suas pinturas: elas são obrigadas a competir num mundo que se define por um número incalculável de imagens, mas, tal facto, acaba por determinar a sua própria fraqueza. Pois, num mundo que é, cada vez, mais imagético – paradoxalmente – o desaparecimento de uma imagem encontra-se à distância de um clic, ou, no caso de Nitsche, de uma pincelada.

Por outras palavras, é como se Natural Yogurt Paintings nos entregasse a sobrevivência, a resistência e a afirmação de imagens que combatem a sua própria condição: frágil e irónica.

edf

 

Artigo por Beatriz Coelho.

A exposição decorre até ao dia 24 de Fevereiro de 2018, na Galeria Pedro Cera. Mais informações aqui.